“O céu e o inferno não são
folclore”
Em entrevista exclusiva, Edir Macedo conta
que não tem residência fixa, diz que a Igreja Universal ainda é perseguida
pelos católicos, relata o último encontro com a presidenta Dilma Rousseff e
fala sobre o futuro da Igreja e da Rede Record
Por Mário Simas Filho
Edir Macedo estava
no apartamento de aproximadamente 200 metros quadrados no último andar do
prédio da Igreja Universal do Reino de Deus, na avenida João Dias, em São
Paulo, quando soube que o lançamento de sua autobiografia “Nada a Perder”, na
Argentina, fora um sucesso (leia reportagem à pág. 68). Na sequência,Macedo foi informado de que o livro
também será traduzido para o francês e imediatamente começou a procurar data na
agenda para promover um lançamento em Paris no início do próximo ano. Foi no
embalo dessas notícias que, no domingo 18, sentado no sofá da sala do imóvel
que costuma ocupar quando está em São Paulo, Edir Macedo concedeu entrevista exclusiva à ISTOÉ. Nos
últimos sete anos, é a primeira entrevistado
bispo a um meio de comunicação que não pertence a ele.
Aos 67 anos, o líder da IURD e dono da Rede Record entende que ainda é tratado como o chefe de uma seita pela cúpula católica. Ele relata o último encontro que teve com a presidenta Dilma Rousseff, afirma que milagres continuam a ocorrer em seus templos e se mostra emocionado quando faz referência às pessoas que conseguem encontrar na Universal um novo caminho para suas vidas.
ISTOÉ – Como é sua rotina? Por que o sr. não mora no Brasil?
Edir Macedo - Não tenho uma rotina definida. Dedico cem por cento do meu tempo às
questões espirituais da Igreja Universal do Reino de Deus em todo o mundo. Não
exerço uma profissão ou um cargo executivo, exerço uma missão de fé que tem
como único objetivo pregar o Evangelho. Isso exige certos sacrifícios, como,
por exemplo, não ter uma residência fixa. Viajo os continentes, o máximo que
posso, para ensinar o que temos recebido de Deus aos pastores e ao nosso povo.
Em quase todos os países, moro em apartamentos construídos no prédio da Igreja.
Minha vida se resume ao altar e ao convívio com minha esposa, Ester.
ISTOÉ – O sr. é um homem rico?
Macedo - Vivo da ajuda de custo da Igreja e dos direitos autorais. A Igreja
Universal não é patrocinada pelo governo ou por qualquer iniciativa privada.
Temos despesas para pagar. Aluguéis, reformas e construções de centenas de
templos, contas milionárias de luz e água, ajuda de custo de milhares de
pastores, mais de 5.800 funcionários registrados etc., etc… Quem paga tudo
isso? O dinheiro não cai do céu. É Deus quem dá o sustento para a Sua Igreja
abençoando a vida das pessoas. Quanto mais elas recebem, mais elas nos ajudam a
investir no Evangelho. E mais: nunca recebi nenhuma remuneração da Record, nem
como pró-labore ou como ganho de lucros, conforme demonstrado nos balanços da
emissora, registrados na Junta Comercial. Todo o lucro é reinvestido na própria
Record. Ela está aí para crescer e conquistar um espaço ainda maior.
ISTOÉ – Além da Record, o sr. possui empresas em outros ramos?
Macedo - Tenho em meu nome a Record, mas meu prazer mesmo é pregar o Evangelho.
ISTOÉ – O bispo Edir Macedo consegue se distanciar do empresário das comunicações Edir Macedo?
Macedo - Deixo os negócios sob responsabilidade dos profissionais
contratados para tocarem o dia a dia da Record, por isso não me considero um
empresário. Não tenho riqueza maior na vida do que a minha fé. O nome do meu livro
não é uma mera expressão literária. Não tenho nada a perder. E isso é um recado
claro e direto a quem interessar.
ISTOÉ – Logo no início do livro o sr. diz que, no momento de sua prisão, políticos de prestígio, empresários, juízes e desembargadores tomavam decisões sob a influência do alto comando católico. Quais eram os políticos e juízes que agiam sob influência da cúpula católica?
Macedo - A Igreja Universal foi e continua sendo atacada. Isso não acabou.
Somos sempre alvo de certos setores da sociedade incomodados com a perda de
espaço e privilégios, como a Globo e o Vaticano. Há um claro preconceito por
trás disso. Uma postura agressiva velada. Ou alguém duvida que a Globo só me
ataca e ataca a Igreja Universal por causa da Record? Para eles, a Record é uma
ameaça. Naquele tempo da minha prisão, por exemplo, houve um escândalo sem
precedentes na televisão de que pouca gente lembra. A Globo teve a petulância
de colocar, em uma cena de novela, uma atriz, prestes a ter relações sexuais,
jogando o sutiã em cima da “Bíblia Sagrada”. Você tem ideia do que isso
significa? Uma afronta ao símbolo maior da fé cristã. A “Bíblia” não é um livro
sagrado apenas da Igreja Universal, mas de todos os cristãos. E o que
aconteceu? Nada! Muita gente aplaudiu, achou bonito. Em outro país, essa
emissora de tevê não passaria sem punição. E agora, vários anos depois, essa
mesma emissora quer patrocinar eventos de música gospel? Dá para acreditar nas
intenções dessa empresa? Estranho, não é?
ISTOÉ – A relação dos líderes católicos com a Universal mudou de lá para cá? E com o Judiciário?
Macedo - Não temos relação com esse segmento religioso (os católicos) porque eles
ainda nos consideram como seita. Não temos nada contra o povo católico, em sua
enorme maioria formada por gente sincera e de bem. Depois de 35 anos, apesar do
trabalho social e espiritual desenvolvido pela Igreja Universal, ainda somos
tratados com preconceito, mas vamos em frente, vamos arrebentar de qualquer
maneira. Sempre foi assim. Sobre os membros do Judiciário, penso completamente
diferente. Tenho uma avaliação extremamente positiva do nosso Judiciário.
Confio muito no senso de justiça e independência da classe de magistrados do
nosso país.
ISTOÉ – Como o sr. se relaciona com a presidenta Dilma Rousseff? E com os ex-presidentes Sarney, Collor, Fernando Henrique e Lula?
Macedo - Ao longo dos últimos anos tivemos alguns encontros com a presidenta
Dilma, por quem tenho profundo respeito. O último encontro aconteceu em Londres,
durante os Jogos Olímpicos. Procuramos mostrar a ela e aos demais ministros que
a democracia nos meios de comunicação, principalmente na televisão, é o melhor
caminho para o Brasil. Alertei a presidenta Dilma que o monopólio nas
comunicações é um caminho perigoso para o País. Também tivemos algum
relacionamento com os demais presidentes brasileiros e diversas autoridades de
outros países. Mais isso vou detalhar no volume dois do meu livro de memórias.
ISTOÉ – O sr. é bem tratado pelos agentes do poder?
Macedo - Todos nos tratam com consideração pelo trabalho de recuperação social
que a Igreja Universal realiza junto às mais variadas classes sociais. Quantos
bilhões os governos economizam com o atendimento espiritual proporcionado pela
Igreja Universal? Quando alguém vence uma crise crônica de depressão ou supera
o vício das drogas, por exemplo, quanto o sistema de saúde público economiza?
Imagine esse efeito multiplicado aos milhões.
ISTOÉ – Estudiosos das igrejas neopentecostais têm pesquisas mostrando que os fiéis costumam fazer um rodízio entre as inúmeras denominações. A Universal seria a preferida daqueles que passam por problemas financeiros. Isso é real?
Macedo - A Igreja Universal é um pronto-socorro espiritual. Ela recebe gente que
sofre com os mais variados males, entre eles dificuldades financeiras. Isso me
faz lembrar uma importante reflexão. Se tanta gente chega arruinada e é
enganada e explorada por nós, como dizem por aí, por que elas permanecem na
Igreja Universal? O que é enganado, se deixaria enganar uma única vez e não
voltaria nunca mais. Mas por que existem tantos templos lotados no Brasil? Por
que existem tantos membros fiéis com décadas de Igreja? Como explicar esse
crescimento em todo o mundo, acima de culturas, raças e idiomas? Não é o
cumprimento da promessa do bispo Macedo na
vida delas. É o cumprimento dos juramentos bíblicos.
ISTOÉ – Sociólogos são unânimes ao explicar o sucesso da Igreja Universal pela máxima de que em seus cultos sustenta-se que a felicidade plena deve ser alcançada e conquistada na vida presente. Então, no seu entender, como seria a vida eterna, a vida pós-morte?
Macedo - Exatamente como a “Bíblia” ensina: salvação
da alma para os que aceitam e praticam essa fé e condenação para os que não
aceitam. Isso está escrito de maneira simples e objetiva. Acredita quem quer. O
destino após a morte é definido pelas escolhas que o ser humano faz em vida. O
céu e o inferno não são folclore. Aceitar o Senhor Jesus como seu Salvador é o
único caminho da salvação eterna da alma. E essa é a maior riqueza de qualquer
pessoa. Não existe bem maior do que a salvação da nossa alma.
ISTOÉ – A principal acusação que o levou à prisão foi a de charlatanismo, em razão de cultos em que havia exorcismo. Nos cultos realizados pelo padre Marcelo Rossi, por exemplo, também se diz que os dons do Espírito Santo são usados para a operação de milagres. O que o difere do padre Marcelo?
Macedo - Não tenho a mínima ideia do que acontece em
outros lugares. O fato é que a Igreja Universal baseia sua crença cem por cento
nos ensinamentos da Palavra de Deus. E na “Bíblia” existem exemplos claros e
incontestáveis da manifestação da fé através da realização de curas e da libertação
espiritual. Temos milhares de histórias reais de pessoas que experimentaram
esses milagres e podem atestar, nos dias de hoje, a veracidade das promessas
cristãs. Mas o maior milagre é a conquista da fé inteligente, capaz de gerar
uma mudança radical de comportamento, a transformação completa de pensamentos e
de valores.
ISTOÉ – No livro, o sr. sugere que as perseguições contra a Universal aumentaram depois da compra da Record.
Macedo - Como disse, o avanço da Record
incomoda muita gente. Crescimento ainda maior da Record significa o fim do
monopólio, dos mandos e desmandos de certos barões da mídia, de grupos
religiosos conservadores contrários à prática da fé que ensina as pessoas a
pensar livremente. São esses setores da sociedade que sempre nos atacaram.
Muita gente me odeia sem ao menos me conhecer. Pessoas que nem sequer pararam
para pensar mais a fundo sobre os princípios que defendemos. Eu só quero que
elas pensem e não formem suas opiniões pelo que leem nos jornais ou veem na
televisão. Eu sei que a tendência da maioria é ter uma opinião negativa sobre
nós porque as pessoas sempre foram alimentadas pelas informações da mídia. Eu
não as culpo. Desejo apenas que pensem. Só isso. Pensem.
ISTOÉ – O sr. interfere no dia a dia da Record? Tem conhecimento prévio do que vai ao ar?
Macedo - Existe um comitê de gestão
formado pela presidência, vice-presidências e algumas diretorias estratégicas
que tomam as decisões no dia a dia da Record. Eles se reportam a mim, de tempos
em tempos. São profissionais competentes que têm feito um ótimo trabalho e em
quem depositamos nossa confiança. Muitas vezes sou surpreendido por uma estreia
ou outra no ar. É claro que também dou minhas opiniões e sugestões, mas são
muito raras. Algumas são reprovadas (risos) e outras aprovadas, como a produção
de minisséries bíblicas, a exemplo de “Rei Davi”. Foi uma inovação importante
para a televisão brasileira. O trabalho foi belíssimo, alcançou um excelente
resultado de audiência e atingiu diferentes tipos de público. A determinação
geral é seguirmos firmes na construção de uma emissora de tevê com programação
diversificada e de qualidade, voltada para todos os brasileiros.
ISTOÉ – Quais os seus planos para o futuro da emissora, já que o mercado das comunicações passa por grande transição?
Macedo - A Record tem um projeto de
televisão em andamento. Não vivemos de um acerto pontual ou outro na
programação. Construímos um departamento de jornalismo sólido e com
credibilidade, uma fábrica de novelas própria com milhares de funcionários e um
projeto comercial que conquistou a confiança dos anunciantes. O ano de 2013
será de grandes investimentos em nossa emissora. Nossa meta é a liderança,
não importa o tempo que isso demore para acontecer. Nosso foco está bem
definido. Vamos chegar lá. Vamos arrebentar.
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